Hellfire Faction: Mini-entrevista sobre a capa do debut

Nesta pequena entrevista com o guitarrista e vocalista Ricardo Fusco, do HELLFIRE FACTION, foram abordados alguns pontos interessantes sobre a criação da capa do debut The Lemniscate Delusion”, criada pelo próprio músico.

Tu já fez outra capa além dessa?

A capa de “The Lemniscate Delusion” foi a primeira na qual trabalhei. Decidi eu mesmo estudar design gráfico e Photoshop para poder por em prática as idéias que eu tinha para as artes da banda. Percebi que eu estava perdendo muito tempo tentando explicar para outros designers como eu queria exatamente que as artes fossem, sou muito detalhista e isso acabava sendo frustante pra mim e pros designers. Tendo isso em mente, passei 1 ano estudando e fazendo diversos cursos de design gráfico até conseguir eu mesmo chegar no resultado final que esta na capa do álbum. Demorou mas valeu a pena. Depois dessa primeira experiência bem sucedida, sempre que tenho tempo livre aproveito pra estudar mais e criar novas artes, já tenho inclusive umas 3 ou 4 novas capas prontas dentro da proposta da HELLFIRE para serem utilizadas para futuros álbuns/singles. A logo da HELLFIRE também fui eu quem criou, assim como materiais de divulgação e toda a identidade visual da banda.

Tu trabalha com artes gráficas?

Não trabalho profissionalmente como designer, porém tenho vontade de entrar nessa área no futuro. Quem sabe algum dia eu não possa trabalhar criando artes pra outras bandas também, assim como algumas pessoas da cena fazem? Tudo depende de eu ter um tempo sobrando. Dois caras que eu admiro tanto como músicos como designers são o Niklas Sundin do Dark Tranquillity e o nosso compatriota Marcelo Vasco do grande Troops of Doom.

No que tu te inspirou pra criar a arte?

A maior inspiração foi a Art Nouveau em geral, e mais especificamente a arte de Charles van der Stappen, o artista que esculpiu a estátua que aparece na capa. Essa é a obra mais conhecida dele e se chama “Le Sphinx Mystérieux”: “A Esfinge Misteriosa”. Ela tem esse nome intrigante por que ninguém consegue definir exatamente o que ela quer dizer com sua pose enigmática: com a expressão austera e vestida para a guerra com armadura e elmo, ela tem os olhos fixos no horizonte, a mão direita erguida em frente ao rosto. Ela é realmente uma obra muito marcante e é difícil ficar indiferente a ela.

Como escolheu as cores?

A escolha das cores foi fácil de ser decidida e muito difícil de ser obtida da forma que eu havia concebido inicialmente. Desde o início eu havia decidido que não queria uma capa típica de metal, com cores escuras e tons tendendo ao preto e vermelho. Dei uma olhada na minha coleção de CDs e notei que 90% de tudo o que eu tinha ali tendia pra essas cores mais escuras. E quando tinha algo em uma cor mais clara aquele disco acabava se destacando bastante no meio dos outros álbuns do estilo. Foi isso que decidi primeiramente: eu queria uma arte que fosse esteticamente agradável e que chamasse atenção quando colocada lado a lado com artes típicas do estilo. Tendo a ideia da esfinge já estabelecida, comecei a experimentar diferentes panos de fundo pra emoldurar a estátua. Depois de muita tentativa e erro cheguei na versão final que representa perfeitamente a minha visão inicial: tons borrados de azul claro e branco, com pequenos toques de um dourado metálico que é realmente agradável de se olhar. Eu diria que a capa no geral passa uma sensação pacífica e meio monótona devido aos tons azuis claros, o que faz um contraponto legal com o fato de a esfinge estar vestida para a guerra. Umas das minhas preocupações ao desenvolver essa arte era a de que talvez o nosso logo (que usa uma fonte de estilo Germanika) não fosse combinar com a estética Art Nouveau geral. Pra minha surpresa tudo se encaixou perfeitamente bem, e essa mistura de estilos inclusive acabou dando um certo ar inovador para a arte.

No que ela se conecta com as letras?

Tanto a arte da capa quanto a arte do encarte em geral se conectam não somente com as letras mas também com a música de “The Lemniscate Delusion”. Eu com frequência me inspiro nas artes visuais pra criar uma certa atmosfera na hora de escrever a música, e no caso específico do “Lemniscate” eu me lembro de estar bastante absorto na estatuária renascentista e de Art Nouveau. Na primeira faixa do álbum por exemplo, ‘The Rape of Daphne’, a letra e a música foram inspiradas pela obra ‘Apollo e Dafne’ do escultor italiano renascentista Gian Lorenzo Bernini, que por sua vez foi inspirada na lenda grega do deus Apolo e da ninfa fluvial Dafne. Visto que essa obra de Bernini já havia inspirado uma canção inteira, achei que faria sentido usar a ‘Esfinge’ de van der Stappen para a capa, pois essas tinham sido as duas obras que mais haviam me inspirado enquanto escrevia o “Lemniscate”. Eu acho que a esfinge, que por si só já é um símbolo de mistério e misticismo, se encaixa muito bem na proposta do álbum de abordar a falsa idéia de eternidade que é tão comum a nós seres humanos. Num nível mais pessoal, eu diria que a capa se conecta especialmente com a já supra-citada ‘The Rape of Daphne’. Eu pessoalmente interpreto o gesto da esfinge da mão em frente ao rosto como uma ordem de parada, o que se encaixa bem no contexto de uma mulher como a Daphne da canção, uma mulher que está a fugir de uma violência sexual. É como se a esfinge fosse a própria Daphne. Existem mais conexões com outras canções do álbum também, mas prefiro não dizer mais sobre esse assunto por que já ouvi tantas interpretações diferentes e extremamente interessantes de amigos e fãs que prefiro deixar que cada um leia as letras e crie suas próprias interpretações.

Ouça “The Lemniscate Delusion” no Youtube:

A “Le Sphinx Mystérieux” é a obra mais conhecida de Charles Van der Stappen, tornando-se um ícone do simbolismo e da Art Nouveau. O escultor criou este trabalho para o Salão de Honra da Exposição Colonial de Tervuren em 1897.

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WarGodsPress

Assessor de Imprensa com a Wargods Press, colaborador da revista Roadie Crew, co-autor do livro Tá no Sangue! e podcaster com o Metal Legacy.

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