Resenha: O Senhor dos Metais – A Influência de J.R.R. Tolkien no Rock & Heavy Metal

Livro:O Senhor dos Metais – A Influência de J.R.R. Tolkien no Rock & Heavy Metal
Autor: Stefano Giorgiani
Editora: Estética Torta – 2020
Páginas: 472

Os fãs de Heavy Metal, em sua maioria, são grandes admiradores de temas históricos e mitológicos, vide os inúmeros álbuns dedicados a estes assuntos. E não é de hoje que este o fantástico mundo criado pelo escritor J.R.R. Tolkien figura no igualmente fantástico mundo do Rock/Metal. Pensando nesta união literária/musical tão exitosa, o escritor italiano Stefano Giorgiani nos presentou com uma verdadeira aula da influência de Tolkien neste cenário musical, falando não somente das bandas mais conhecidas, mas também dando uma revisada no mundo underground. Um trabalho realmente rico e minucioso.

Além dos nomes óbvios que são conhecidos pelo tema, em maior ou menor número, como Black Sabbath, Blind Guardian, Summoning, Led Zeppelin, Rush, Burzum e Morgana Lefay, o livro também traz bandas fundamentais de Epic Metal, como Cirith Ungol e Attacker, nomes obrigatórios em qualquer pesquisa sobre Tolkien/Heavy Metal. A polêmica cena Black Metal é retratada, inclusive aquela fatia voltada ao nacional-socialismo, vide o próprio Burzum, Graveland e bandas menos conhecidas. Entretanto, um dos pontos altos – além do capítulo de Power Metal – é o começo do livro, que engloba detalhes sobre Tolkien e a cena hippie que floresceu na década de 1960, com uma leva de bandas buscando os livros de Tolkien como influências, gerando álbuns interessantíssimos e moldando toda uma geração, pois o trabalho de Tolkien fugia do mundo literário e acabava adentrando na própria sociedade.

Embalado numa edição de luxo, com uma belíssima capa dura, cortesia da Estética Torta, o livro traz ainda, além de muito texto, imagens que ilustram muito bem o conteúdo do livro, com capas de discos e fotos das bandas, situando o leitor com o que é descrito. Stefano Giorgiani, formado em Linguística pela Universidade de Verona, como não poderia deixar de ser, é grande fã de Heavy Metal e com bastante experiência no assunto (é editor da Metal Hammer italiana), e além disso participa da Associação Italiana de Estudos Tolkieanos, sendo membro fundador do mesmo.

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Tolkien na Primeira Guerra Mundial

Na foto, J.R.R. Tolkien posa com seu uniforme durante a Primeira Guerra Mundial. A seguir, trecho de texto de minha autoria sobre a experiência de Tolkien nesta sangrenta guerra, publicado na revista Leituras da História #127. Os acontecimentos que remodelaram a geopolítica mundial após a Primeira Guerra Mundial também moldaram o futuro de Tolkien, recém-casado e recém-formado. A Batalha de Somme, ocorrida na região do rio Somme, nordeste da França, entre julho e novembro de 1916, é tida como uma das maiores e mais mortíferas batalhas da Grande Guerra, com um número estimado em mais de um milhão de vítimas entre ingleses, franceses e alemães. A sangrenta luta de trincheiras que teve início em 1914 e só teve fim em 1918 levou consigo dois de seus melhores amigos, Geoffrey Smith e Rob Gilson, o que certamente o influenciou em suas futuras obras.

Os três haviam criado uma sociedade literária quando frequentavam a King Edward’s School, em Birmingham, com o nome de TCBS, ou “Tea Clube and Barrovian Society”. O quarto membro da sociedade era Christopher Wiseman, que também havia lutado na guerra. Tolkien, ao contrário de seus amigos, saiu ileso da batalha, mas foi vencido pela “febre de trincheira”, ficando impossibilitado de continuar em Somme. Essa experiência na guerra está claramente ligada a diversas passagens de O Senhor dos Anéis, como por exemplo, a longa travessia de Frodo e Sam pelos Pântanos dos Mortos, um lugar muito parecido com os mórbidos campos entrincheirados da Batalha de Somme. Com tantos soldados mortos caindo ao seu lado e envolto num cenário de total devastação, Tolkien não esqueceu esta triste fase de sua vida tão cedo.

Já fora do campo de batalha, Tolkien dá início a uma saga literária que ainda rende frutos. Foi num hospital, em recuperação devido à “febre da trincheira”, que Tolkien inicia “A Queda de Gondolin” e dá vida à Eärendil, o primeiro personagem de sua complexa mitologia. Foi nesta época que também surgiu o conto “Beren e Lúthien”. 

Um fato curioso sobre a Batalha de Somme é justamente sobre seus soldados. Em ambos os lados do campo de Somme, nomes já conhecidos ou ainda por serem descobertos estavam na mesma situação, enlameados e a mercê de seus superiores. Enquanto Tolkien fazia parte do Primeiro Batalhão dos Lancashire Fusiliers, outras personalidades inglesas se dividiam em outros batalhões, como Ernest Hemingway, Ralph Vaughan Williams e Robert Graves. Do outro lado do front estavam Ernst Jünger, filósofo alemão e Adolf Hitler, na 6ª Divisão Bávara da Reserva. Mais tarde, ferrenho opositor do nazismo, Tolkien deixou clara sua posição para a editora alemã Rütten & Loening, interessada em lançar uma versão traduzida de “O Hobbit” na Alemanha. Em cartas trocadas com o editor Stanley Unwin, mostrou sua total aversão ao regime de Adolf Hitler e suas leis lunáticas, ameaçando não liberar o lançamento do livro em terras alemãs.

Tolkien no Heavy Metal

Escolher uma única música para fazer referência ao livro é uma tarefa complicada, porém, nada mais justo que indicar o disco que mais representa o mundo da Terra Média: “Nightfall in Middle-Earth”, lançado em 1998. Por mais que o Blind Guardian já tenha abordado o tema anteriormente, o fato é que até então os alemães ainda não haviam criado algo inteiramente baseado em alguma obra de Tolkien, e coube ao livro “The Silmarillion” gerar toda a inspiração necessária para gerar um álbum 100% baseado em sua obra, e o resultado arrebatador.

Giorgiani dedica quase quarenta páginas sobre o Blind Guardian no capítulo 4, chamado “Rumo a Valinor: Blind Guardian, o Power e o Fantasy Metal”, com direito a uma entrevista com o vocalista Hansi Kürsch. Com esse destaque todo, o autor não poupa detalhes sobre a influência de Tolkien no trabalho dos bardos do Power Metal, dissecando suas letras e suas referências literárias. Ao falar de “Nightfall in Middle-Earth”, nota-se a imensa pesquisa de Giorgiani e todo um cuidado ao explicar cada letra do disco. Mesmo para quem já leu “Silmarillion” e ouviu “Nightfall in Middle-Earth” mil vezes, é uma verdadeira aula. E nossa música escolhida para indicar aqui é a emblemática “Mirror, Mirror”, um dos maiores clássicos do Power Metal.

Um trecho da letra:

“Eu deveria deixar meus amigos sozinhos
Escondidos em minha sala do crepúsculo
Sei que o mundo está perdido em chamas
Com certeza não há volta
Para os velhos dias
De felicidade e risadas alegres
Nós estamos perdidos em terras áridas
Pego pelas chamas que correm
Sozinhas”

Texto publicado em https://www.instagram.com/bangerbooks/ 

WarGodsPress

Assessor de Imprensa com a Wargods Press, colaborador da revista Roadie Crew, co-autor do livro Tá no Sangue! e podcaster com o Metal Legacy.

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