Metal Map: Um mergulho na alma do Heavy Metal Argentino

A série “Metal Map”, criada pela Metal Legacy Media, faz parte de um projeto que visa mapear a cena Heavy Metal ao redor do mundo. Com o objetivo de representar ao máximo as bandas, cidades e regiões de cada país, a série é um convite para explorar a diversidade do gênero em diferentes culturas. Na edição argentina, destaca-se a potência de uma cena rica, vibrante e cheia de identidade.

Por décadas, o Heavy Metal argentino tem sido mais do que apenas um gênero musical — é uma forma de expressão visceral, marcada por contestação social e identidade cultural. As origens desse movimento remontam ao início dos anos 1980, em meio a um dos períodos mais sombrios da história do país: a ditadura militar (1976–1983). Foi nesse cenário de censura, repressão e instabilidade política que surgiram as primeiras bandas a incorporar o peso, a agressividade e a atitude do metal. Embora outras bandas de rock pesado já existissem no país antes disso — como o Pappo’s Blues, que flertava com o hard rock e o blues rock nos anos 1970 — foi na década de 1980 que o estilo ganhou vida no país.

Duas formações foram fundamentais para a construção dessa identidade: Riff e V8. Fundada pelo lendário guitarrista Norberto “Pappo” Napolitano, o Riff despontou no final dos anos 1970 trazendo influências do hard rock britânico e norte-americano. Com riffs marcantes, visual rebelde e letras provocativas, a banda abriu espaço em um cenário ainda dominado pelo rock progressivo e pela música popular. Em discos como “Ruedas de Metal” (1981), a banda se tornou um símbolo da juventude urbana e inconformada.

Osvaldo Civile

Mas foi com V8, formada em 1979, que o heavy metal argentino realmente ganhou forma e propósito. O quarteto, que contava com Ricardo Iorio, Osvaldo Civile, Gustavo Rowek e Alberto Zamarbide, lançou em 1983 o álbum “Luchando por el Metal”, considerado o marco inaugural do metal nacional. Com letras que abordavam a opressão, a alienação e a luta de classes, o V8 incorporava o espírito de resistência frente à realidade política do país. O som direto, agressivo e influenciado por bandas como Motörhead e Judas Priest refletia o clima tenso da época e conquistou uma base de fãs fiel.

Após a redemocratização, o metal argentino floresceu. Ex-integrantes do V8 formaram novos grupos que dariam continuidade à proposta de unir som pesado e crítica social. O Hermética, por exemplo, elevou o discurso politizado e o thrash metal à sua forma mais crua e honesta. Liderada por Iorio, a banda se tornou símbolo de uma geração que buscava compreender e enfrentar os traumas deixados pelo regime militar.

Na sequência, vieram nomes como Almafuerte, Malón, Horcas e Tren Loco, que solidificaram a cena local nos anos 1990, ao lado de uma legião de fãs dedicados e fanzines que documentavam a efervescência do underground. O documentário “Sucio y Desprolijo”, dirigido por Paula Álvarez e Lucas Calabró, lançado em 2015, ajuda a contar essa história em detalhes, reunindo entrevistas, imagens de arquivo e depoimentos sobre como o metal se enraizou na cultura popular argentina.

Confira 10 das bandas mais importantes do Heavy Metal argentino:

Rata Blanca: Fundada em 1985, é uma das bandas mais icônicas do metal argentino. O álbum “Magos, Espadas y Rosas” (1990) inclui o clássico “La Leyenda del Hada y el Mago”, considerado um hino do metal latino-americano.

Hermética: Marcou a cena com seu estilo thrash metal e letras politizadas. Seu álbum “Acido Argentino” (1991) traz a poderosa “Memoria de Siglos”, que traz uma visão crítica sobre a hipocrisia e a luta por poder.

Almafuerte: Formada em 1995 pelo saudoso Ricardo Iorio, é uma continuidade do Hermética. No álbum Mundo guanaco” (1995), destaca-se a faixa “El amasijo de un gran sueño”.

Tren Loco: A banda mistura heavy metal tradicional com temáticas sociais. No álbum “Tempestades” (1992) destaca-se a faixa “La pesadilla del monje”, que carrega muita energia.

V8: Pioneira do heavy metal na Argentina, foi ativa entre 1979 e 1987. O álbum “Luchando por el Metal” (1983) apresenta a icônica “Brigadas metálicas”, que define o espírito da banda. Na guitarra, o lendário Osvaldo Civile.

Horcas: Com mais de três décadas de estrada, é um dos pilares do metal argentino. O álbum “Vence” (1997) inclui a icônica “Argentina, tus hijos”. Fundada por Osvaldo Civile, hoje a banda segue sem membros da formação original. Seu mais recente álbum é o excelente “El Diablo”, lançado no ano passado.

Nepal: Influenciada pelo heavy e thrash metal, é uma referência na cena argentina dos anos 90. Seu último álbum “Manifiesto” (1997), traz a clássica “Besando la tierra” traz os convidados especiais Georgina Biddle (Skyclad) e Hansi Kürsch (Blind Guardian). A banda segue na ativa.

A.N.I.M.A.L.: Com uma pegada voltada ao groove metal, a banda é conhecida pela energia intensa e pelas letras com críticas sociais. O disco “Fin de un Mundo Enfermo” (1994) inclui a visceral “Más cabezas para tu pared”.

Malón: Formada pelos ex-integrantes do Hermética, é uma das principais bandas de thrash metal do país. O álbum “Espíritu Combativo” (1995) traz a impactante “Gatillo Facil”, abordando a violência policial.

RIFF: Uma das bandas mais lendárias do rock pesado argentino, fundada pelo venerado Norberto “Pappo” Napolitano nos anos 80. O debut “Ruedas de Metal” (1981) traz músicas como “El marqués bajo la luz”, que se tornou um clássico do hard rock e metal no país.

EXTRA:

Jason: A banda Jason foi formada em 1991 e se destacou no cenário no cenário nacional com uma mistura Heavy Metal tradicional e Power Metal. Lançaram o primeiro álbum, “Justiciero Arcaico”, em 1997, e chegaram a abrir shows para nomes internacionais como Helloween e Stratovarius.

Imagem de destaque: Horcas atualmente

Imagem da capa da coletânea: Horcas, com Osvaldo Civile

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WarGodsPress

Assessor de Imprensa com a Wargods Press, colaborador da revista Roadie Crew, co-autor do livro Tá no Sangue! e podcaster com o Metal Legacy.