Especial “Serás + Que Imaginação” – DJ KNORST fala sobre suas experiências musicais e avalia o cenário da música eletrônica no Brasil

Localizada no Vale do Taquari, a cidade gaúcha de Paverama receberá no final de semana da Páscoa, nos dias 30 e 31 de março, o festival multicultural “Serás + Que Imaginação”, congregando bandas e DJs de variados estilos, desde Música Brasileira, Reggae, Trap, Instrumental, Rock Alternativo, Punk/HC, Crossover, Heavy Metal, Thrash Metal, Post-Punk, Grindcore e vertentes eletrônicas como Indie Retro, House, Techno, Zenonesque e Psy-Trance e Trance psicodélico. Para conhecer um pouco mais das atrações entrevistamos algumas bandas e artistas para um especial sobre o evento.

Uma destas atrações é o DJ KNORST, que encerrará o evento, no dia 31 de março, domingo. Apostando no Indie retro, o DJ possui cerca de 16 anos de estrada, tendo tocado em festas de destaque por todo o Brasil e atuado como agitador cultural. Abaixo, uma entrevista completa sobre o DJ e produtor.

Como sua experiência com a cena psicodélica influencia sua abordagem como DJ e produtor, especialmente em termos de criar uma conexão emocional com o público?

A cena psicodélica tem sido uma parte fundamental da minha carreira musical ao longo de muitos anos e continua a influenciar profundamente minha abordagem como DJ e produtor. Essa influência se manifesta não apenas em minhas produções, mas também em minhas pesquisas musicais contínuas. Quando estou criando música, busco cuidadosamente incorporar as características distintivas da psicodelia: texturas sonoras envolventes, melodias hipnóticas e um groove progressivo. Minha abordagem não se limita a fazer música para dançar; é uma jornada sensorial e emocional para o ouvinte. Cada faixa é escolhida com dedicação para criar uma atmosfera que oscila entre momentos introspectivos e explosões de energia.

A psicodelia também me ensinou a compreender a energia da pista de dança de uma forma mais profunda. Ao me apresentar como DJ, combino esses elementos para criar uma narrativa musical. Começo com momentos envolventes e hipnóticos, construindo uma atmosfera de contemplação e imersão. Conforme a energia da pista aumenta, introduzo elementos mais alegres e enérgicos, mantendo o público envolvido e ansioso pelo que está por vir.

Essa abordagem, aprimorada ao longo dos anos em que estive imerso na cena psytrance, não visa apenas fazer as pessoas dançarem, mas também criar uma conexão emocional profunda. A música psicodélica tem o poder único de tocar não apenas os ouvidos, mas também a alma. Ao criar esses momentos de catarse e celebração, meu objetivo é proporcionar ao público uma experiência que os deixe tocados e transformados.

Você lançou música por uma variedade de selos internacionais e recebeu suporte de diversos artistas renomados. Como essas experiências moldaram sua jornada musical até agora? São cerca de 16 anos de estrada e creio que há ainda um bom chão para percorrer, não é mesmo?

Os lançamentos por selos internacionais e também brasileiros importantes, abriram portas para novos públicos, permitindo-me conectar-me com ouvintes ao redor do mundo. Além disso, o suporte de artistas renomados não só me deu um impulso de confiança, mas também trouxe uma validação importante para o meu trabalho.

Essas experiências têm sido como uma bússola para minha música, direcionando-me para novas direções criativas e inspirando-me a continuar crescendo como artista. A jornada até agora tem sido incrível, mas sinto que ainda há muito trabalho a explorar e a compartilhar através da música. Com 16 anos de estrada, vejo que ainda há um longo caminho pela frente, cheio de novas descobertas, colaborações e oportunidades. Estou ansioso para o que o futuro reserva e para continuar essa jornada musical com dedicação.

Seu EP “Joyous Journey” alcançou a posição #1 de Indie Dance no Beatport. Como foi a jornada criativa por trás desse lançamento e o que isso representa para você como artista?

O EP “Joyous Journey” foi verdadeiramente uma jornada criativa significativa para mim. Este lançamento não só alcançou a posição #1 no Beatport Indie Dance, mas também representou um divisor de águas em minha carreira de produção musical.

Cada faixa neste EP foi cuidadosamente concebida para transmitir uma experiência única. Na faixa-título “Joyous Journey”, busquei explorar meu lado mais emocional, criando atmosferas alegres e emotivas que refletissem um estado de felicidade e celebração. Por outro lado, em “Radiant Rush”, mergulhei em um mundo mais misterioso e hipnótico, inspirado pelo dark disco oitentista. Essa dualidade de sons e emoções reflete não apenas minha versatilidade musical, mas também meu desejo de levar os ouvintes em uma viagem sonora multifacetada.

Alcançar a posição #1 no Beatport foi um marco que vai além das simples estatísticas. Isso gerou uma visibilidade e reconhecimento significativos nas plataformas de vendas, entre meus colegas da indústria musical, fãs e mídia especializada. Esse reconhecimento também abriu portas para oportunidades emocionantes, chamando a atenção de grandes gravadoras e coletivos musicais.

Para mim, como artista, esse sucesso representa não apenas a validação do meu trabalho duro e criatividade, mas também a capacidade de me conectar com um público mais amplo. É uma prova de que seguir minha intuição e explorar diferentes estilos e emoções pode realmente ressoar com as pessoas. Mais do que isso, esse EP e seu sucesso me inspiram a continuar buscando novos horizontes criativos e compartilhar minha música de uma forma que toque e emocione as pessoas.

Como você equilibra a busca por respostas eufóricas nas pistas com a sensibilidade de criar tensões entre grooves e melodias para contar histórias? Qual a melhor forma de capturar a atenção do público e atingir melhores resultados, seja na pista ou para quem ouve as músicas no celular, no dia a dia? Há uma diferença nesta abordagem?


Acredito que a diferença na abordagem está na intensidade e na forma como os elementos musicais são apresentados. Na pista, buscamos o impacto imediato e a energia contagiante. Para o público do dia a dia, a busca é por algo que os faça parar e prestar atenção, mesmo que por um breve momento em meio à rotina agitada. Ambos os públicos merecem uma experiência musical significativa, e encontrar o equilíbrio entre euforia e sensibilidade é o que torna a música tão poderosa.

Você tocou em vários estados brasileiros e em festas renomadas. Quais são as principais lições que você aprendeu ao longo dessas experiências de performance ao vivo?

Em minhas apresentações, aprendi a valorizar a conexão única com o público de cada local. A versatilidade se torna essencial para adaptar meu repertório conforme a necessidade do momento, mantendo assim a energia e a atenção da plateia ao longo do set. O equilíbrio entre novidade e familiaridade é uma chave para manter o público engajado. Além disso, a humildade e a gratidão são valores que carrego a cada show, pois cada local representa um aprendizado, uma imersão em diferentes culturas que enriquecem minha experiência musical.

Além de ser um DJ e produtor, você também é um agitador cultural, criando e promovendo festas como 4btz, LowBtz e Cave. De que esses eventos contribuíram para o seu crescimento artístico e identidade como músico?

A 4btz, Lowbtz e Cave foram eventos que eu mesmo promovi, sendo uma parte essencial da minha jornada como agitador cultural. Embora esses eventos não ocorram mais, foram verdadeiras escolas para mim em termos de gestão de eventos e no desenvolvimento da minha perspectiva sobre entretenimento.

Produzir essas festas me colocou em conexão direta com diversos artistas, agências e, principalmente, o público. Essa experiência vai além de simplesmente tocar em um evento, pois como produtor, eu estava envolvido meses antes do evento, trabalhando, ouvindo e refinando cada detalhe. Esse engajamento intenso me proporcionou uma ampla rede de contatos e diferentes perspectivas sobre o mundo dos eventos, o que me fez crescer significativamente como artista.

O processo de produção me desafiou a pensar criativamente, a entender as necessidades do público e a criar experiências memoráveis. Além disso, aprender a lidar com logística, promoção e interação direta com o público foi uma verdadeira lição de gestão e produção.

Esses eventos não apenas me permitiram ampliar meu alcance como artista, mas também contribuíram para a minha identidade musical. Cada festa tinha sua própria atmosfera, influências e energia, refletindo diferentes aspectos do meu estilo e evolução artística.

Embora a 4btz, Lowbtz e Cave não aconteçam mais, o legado desses eventos permanece como uma parte essencial do meu crescimento artístico. Eles me ensinaram valiosas lições, me conectaram com uma comunidade diversificada e me permitiram explorar novas possibilidades criativas. Essa experiência como agitador cultural é algo que carrego comigo em minha jornada contínua na música.

Poderia nos contar um pouco mais sobre sua label party Trama e a TRM? Quais são seus objetivos e visões para esses projetos?

A Trama é mais do que uma simples festa para mim, é onde aplico toda a experiência adquirida ao longo de 12 anos na produção de eventos, transformando-a em uma experiência completa para os frequentadores. A curadoria do evento é focada nas linhas sonoras que acredito e sentia falta na região. Além de ser uma festa, a Trama também é uma gravadora, onde apresento minhas apostas em produtores nos quais acredito.

Desde a criação da marca, nossos objetivos e visões estão bem claros, tanto para o curto quanto para o longo prazo. Isso é fundamental para direcionar nosso caminho e é o ponto de partida para definir aonde queremos chegar e como vamos crescer. A resposta e aceitação da marca têm sido incríveis até agora, o que nos motiva ainda mais a continuar evoluindo.

A Trama não é apenas um evento, mas uma experiência imersiva que visa preencher uma lacuna sonora na região. Estou animado com o que está por vir nos próximos capítulos dessa trama

Como você enxerga o cenário da música eletrônica no Brasil atualmente e quais são suas expectativas para o futuro, tanto para você quanto para a cena como um todo?

Atualmente, vejo o cenário da música eletrônica no Brasil em um momento interessante, com algumas nuances em relação ao que vivenciamos antes e depois do impacto do COVID-19. Antes da pandemia, experimentamos um boom no ramo do entretenimento, com uma efervescência notável. No entanto, após o período de restrições, tivemos um retorno intenso, porém breve, com muitas pessoas ansiosas para sair após um longo período de isolamento.

Hoje, estamos vivendo uma nova realidade, e percebo muitos movimentos positivos acontecendo. Há uma nova geração envolvida e interessada em fazer a cena eletrônica crescer, o que é fundamental para manter a renovação e alcançar novos públicos. É importante lembrar, porém, das variáveis que surgiram após o COVID-19. As pessoas estão saindo menos, preferindo escolher cuidadosamente os eventos que frequentam e muitas vezes optando por experiências durante o dia para manterem-se bem durante a semana.

Adaptar-se a essas mudanças é crucial para impulsionar a cena na direção certa. É um momento em que a criatividade e a inovação são ainda mais necessárias. No entanto, vejo com otimismo o futuro, com a certeza de que a cena eletrônica no Brasil continuará a se reinventar e a florescer.

O festival “Serás + Que Imaginação” atingirá públicos diversos, do Heavy Metal ao Hardcore, além de vários DJs tocando House, Trance, etc. Dentro deste contexto musical, você já havia participado de uma festa tão diversificada? Para quem não conhecesse seu trabalho, o que poderá esperar?

Este será o meu primeiro festival diversificado na região, e estou realmente ansioso por essa oportunidade. Durante o evento, apresentarei um set que reflete muito da minha identidade musical. Meu estilo é fortemente influenciado pelos anos 80, então o público pode esperar uma mistura de indie dance e house, com momentos que os levarão para uma jornada nostálgica.

Crédito das fotos: Rafael Hanzen

Agradecimentos à Graciéli da Produtora Ápice Plus Bookings (https://www.instagram.com/apiceplus) pela atenção.

WarGodsPress

Assessor de Imprensa com a Wargods Press, colaborador da revista Roadie Crew, co-autor do livro Tá no Sangue! e podcaster com o Metal Legacy.